sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Resenha | Uma dose mortal, de Agatha Christie

Sinopse:

O grande Hercule Poirot, quem diria, também tem medo da cadeira do dentista. Depois de algumas obturações, é com alívio que ele deixa o consultório do habilidoso dr. Morley. Para a surpresa de todos, em seguida o dentista é encontrado morto. Teria sido suicídio ou um assassinato premeditado?

Ao investigar o caso, Poirot se depara também com o desaparecimento de uma das pacientes do dr. Morley: a misteriosa srta. Sainsbury Seale. O detetive se vê então envolvido num tumultuoso conflito de ideologias que abala a estabilidade da Inglaterra na sinistra atmosfera de desconfiança do início da Segunda Guerra Mundial.


Ok, vocês já sabem que eu gosto muito dos livros da Agatha Christie! ;) Juro que não vou insistir nisso, hehe...

Em Uma dose mortal tudo começa quando Henry Morley, um respeitado e excelente dentista, é encontrado morto dentro de seu próprio consultório em pleno expediente. Pelos indícios, ele havia se suicidado com um tiro e a arma estava bem ao lado do corpo. O problema é que, aparentemente, ele não tinha motivo algum para ter feito isso. Seria um assassinato? Mas quem iria querer assassinar um simples e comum dentista?

Hercule Poirot, nosso detetive belga favorito e também paciente de Morley, logo desconfia de assassinato e passa a investigar o caso, mesmo quando o inquérito conclui que foi mesmo um suicídio. Claro que todos os pacientes passam a ser suspeitos, né? Mas durante a leitura uma dúvida aparece: seria mesmo Morley o verdadeiro alvo? Ou seria Alistair Blunt, um importante financista conservador visado pelos comunistas, que estava no consultório do dentista naquele dia?

Além disso, Gladys Nevill, a secretária de Morley, havia se afastado justamente naquele dia, pois tinha recebido um telegrama informando que sua tia havia sofrido um derrame. Seria coincidência? E o desaparecimento da srta. Sainsbury Seale, também paciente do dentista, tinha algo a ver com o caso? Com base em todos esses questionamentos, a história de desenrola.

Sinceramente, acho que Agatha Christie já escreveu livros melhores. A trama em si não me envolveu e o desfecho, apesar de inesperado para mim, não me empolgou - o motivo para o crime era muito descabido. Sem contar que não gostei da maioria dos personagens (tinha o ríspido/rebelde, a mal educada, a instável, o nervosinho, uma chatice!). Apesar disso, tenho que destacar a sagacidade da autora - embora isso não seja nenhuma novidade, pois coisas que pareciam absolutamente impossíveis de se encaixar na trama foram explicadas de maneira satisfatória.

Não deixa de ser um bom livro, de toda forma. Para quem gosta do gênero, assim como eu, até vale a pena investir algumas horas em sua leitura.

Abraços e até a próxima!


Informações gerais 
Título da obra: Uma dose mortal
Autor(a): Agatha Christie
Ano da edição lida: 2011
Editora: L&PM
Páginas: 224
Classificação no Skoob: ✯✯✯

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha | Restos Humanos, de Elizabeth Haynes

Sinopse:

Você conhece bem seus vizinhos?
Saberia dizer se eles estão vivos ou mortos?

Ao encontrar por acaso o corpo de uma vizinha em avançado estágio de decomposição, Annabel Hayer, que trabalha com análise de informações para a polícia, fica horrorizada ao pensar que ninguém, incluindo ela mesma, percebeu que havia algo errado.

De volta ao trabalho, ela se sente compelida a investigar o assunto, apesar da falta de interesse de seus colegas, e encontra dados que mostram o aumento assustador de casos como esse naquele ano em sua cidade natal. Conforme aprofunda sua investigação, Annabel parece cada vez mais convencida de estar diante de um crime terrível e é obrigada a enfrentar os próprios demônios e a própria fragilidade. Será que alguém perceberia se ela simplesmente desaparecesse?


Restos Humanos possui dois narradores principais: Annabel Hayer, uma analista criminal perto da meia-idade; e Colin Friedland, um sujeito pra lá de esquisito que trabalha na prefeitura de Briarstone, a cidade em que se passa a história.

Tudo começa quando Annabel, intrigada com o mau cheiro que parecia vir da casa ao lado, supostamente abandonada, resolve investigar por conta própria a situação. Ao praticamente invadir a residência, encontra o corpo de sua vizinha, Shelley, em estado avançado de decomposição.

Profundamente perturbada com o acontecido, sobretudo devido ao fato de que ninguém - inclusive ela mesma - percebeu que havia algo errado, começou a investigar o assunto. Espantou-se por constatar que haviam muitos casos semelhantes àquele acontecendo em Briarstone - 24 corpos foram encontrados em situação similar somente naquele ano, um número muito acima da média. Intrigada, tentou chamar a atenção das autoridades competentes, mas não obteve resultado satisfatório.

Os indícios apontavam para uma morte por inanição, ou seja, essas pessoas morriam de fome e sede. E parecia que faziam tudo por vontade própria. Era como se tivessem desistido de viver. Ao longo da história, temos acesso aos pensamentos dessas vítimas, a partir dos quais vamos entendendo os motivos que as levaram a isso.

Annabel ficou bastante abalada com os casos, pois ela mesma vivia um drama: morava sozinha com sua gata e não tinha um relacionamento tão bom assim com sua mãe. Se ela desaparecesse, será que alguém notaria? Seus colegas de trabalho não pareciam se importar muito com sua presença. Ela era uma vítima em potencial, sem sombra de dúvidas. E com isso a história vai se desenrolando...

Aos poucos vamos entendendo o papel que Colin Friedland, o outro narrador, tem na história. Precisei de apenas um capítulo narrado por ele para decidir que não gostava dele de jeito nenhum. Antipatia imediata. Mas não posso falar mais, senão teremos spoilers! ;)

Este é um livro profundamente reflexivo: nos faz pensar sobre abandono, rejeição, solidão e falta de autoestima. É muito fácil se autodestruir quando ninguém se importa com você ou quando você não permite que isso aconteça. Muitas vezes somos nós que não deixamos as pessoas entrarem em nossas vidas.

Vá para casa. E tranque a porta. Será mesmo que este é o caminho correto?

Só senti falta de um final mais consistente. Achei que era merecido e necessário, tendo em vista o desenrolar dos fatos. Mas isso não tira o mérito do livro, que é excelente, por sinal. Extremamente intrigante e perturbador. Estou ansiosa para ler mais coisas da autora.

[...] Era como se meu corpo já tivesse morrido e apenas esperasse minha mente alcançá-lo. E talvez a nuvem negra seja isso, afinal de contas. Talvez a nuvem negra seja a morte e eu simplesmente não a tenha reconhecido como tal. E tantos de nós ainda estamos perambulando pelo mundo, mas estamos simplesmente mortos por causa da nuvem dentro, fora de nós, ao nosso redor. (p.38)


[...] Ninguém consegue ver a dor. Não existe uma tabela referencial para avaliar a dor que outra pessoa sente. Tudo o que veem é a inatividade - que interpretam como preguiça. (p.75)

Citações interessantes, né? Acho que isso nos mostra que nem sempre sabemos o que se passa na mente das pessoas ao nosso redor. Às vezes precisamos nos colocar no lugar do outro e sempre temos que tomar cuidado com nossos julgamentos.

Livro recomendado!

Abraços e até a próxima!


Informações gerais 
Título da obra: Restos Humanos
Autor: Elizabeth Haynes
Ano da edição lida: 2014
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
Classificação: ✯✯✯

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Resenha | Serial Killers: Louco ou Cruel?, de Ilana Casoy

Sinopse:

Serial killers: louco ou cruel? aborda os serial killers sob diversos aspectos e à luz da Criminologia, do Direito, da Psiquiatria e da Psicologia, e dedica-se a dissecar este universo, analisando como tudo começa, quem são as vítimas, os aspectos gerais e psicológicos, os mitos e as crenças, o perfil do criminoso, a psicologia investigativa, a análise do local do crime e a encenação/organização da cena.

Na segunda parte do livro, Ilana Casoy apresenta em detalhes 16 casos de serial killers que chocaram e marcaram o século XX, entre eles Albert Fish, Ed Gein, Ted Bundy, Andrei Chikatilo, Jeffrey Dahmer, Aileen Wuornos e o Zodíaco, cuja identidade segue desconhecida até hoje. Histórias que habitam as entranhas da humanidade e o que ela tem de pior: frieza, perversidade e falta de sensibilidade que acabam por produzir  mal em escalas inimagináveis.


Já comentei por aqui que amo romance policial. É meu gênero literário favorito. Sendo assim, séries de TV que tratam sobre investigação criminal também são minhas preferidas. É meio natural, portanto, que livros sobre serial killers e psicopatas, no geral, me interessem bastante. E foi assim que decidi que eu deveria ler Serial killers: louco ou cruel?, de Ilana Casoy.

Depois de lê-lo, entretanto, fiquei por um bom tempo pensando o que eu poderia escrever sobre este livro. A verdade é que ele me deixou em "estado de choque", mesmo tendo passado um tempinho após sua leitura. É realmente perturbador! Mas vamos às considerações...

Na primeira parte do livro, a autora (que é especialista em crimes) aborda os aspectos gerais e psicológicos de um serial killer, os mitos e as crenças, métodos utilizados para se traçar o perfil do criminoso, como é feita a investigação da cena do crime pelo FBI, do que se trata a psicologia investigativa e muitas outras curiosidades sobre o assunto. Embora o conteúdo não seja propriamente inédito, foi abordado de maneira didática e bem objetiva, portanto, é muito válida. Como me interesso bastante pelo tema, fiquei um pouco frustrada com o livro Mentes Perigosas, de Ana Beatriz Barbosa Silva, e pensei que o mesmo fosse acontecer com este, mas não poderia estar mais enganada! Felizmente!

A segunda parte é realmente muito perturbadora. A autora traz relatos sobre 16 serial killers estrangeiros, alguns deles famosíssimos, como Edward Theodore Gein - a inspiração de Psicose; John Wayne Gacy - o palhaço assassino; o Zodíaco - cuja identidade ainda é um mistério; entre outros. Esses relatos abordam como esses assassinos escolhiam suas vítimas, o que faziam com elas no "cativeiro", como as assassinavam e escondiam (ou não) seus corpos, como foram capturados (exceto o Zodíaco) e o desfecho da história (quando houve um). Me incomodou bastante constatar que, em muitos casos, negligências dos investigadores dos casos puderam comprometer tantas vidas inocentes - claro que é difícil julgar, afinal, não estávamos lá, mas casos assim precisam de todo o cuidado do mundo, né? O que mais impressiona é que muitos desses serial killers eram "cidadãos acima de qualquer suspeita" e suas crueldades não tinham limites. Foi estarrecedor.

Para quem tem curiosidade sobre o assunto, é uma leitura que vale realmente a pena. A linguagem utilizada é bem simples e objetiva, assim como os relatos são concisos e, ao mesmo tempo, completos. Confesso que a obra me rendeu alguns pesadelos, pois é muito difícil absorver o conteúdo dessas páginas. Não dá para entender como coisas assim podem, de fato, acontecer. Estou bem curiosa para ler o outro livro da autora, que é Serial killers: made in Brazil. Com certeza deve ser tão interessante quando este.

Nós, serial killers, somos seus filhos, seus maridos, estamos em toda parte. E haverá mais de suas crianças mortas amanhã. Vocês sentirão o último suspiro deixando seus corpos. Vocês estarão olhando dentro de seus olhos. Uma pessoa nessa situação é Deus!
- Theodore Robert Bundy, serial killer (p.97)

Eu, hein?!?!

Abraços e até a próxima!


Informações gerais 
Título da obra: Serial killers: louco ou cruel?
Autor: Ilana Casoy
Ano da edição lida: 2014
Editora: DarkSide Books
Páginas: 360
Classificação: ✯✯✯

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Leituras do mês - Janeiro/2015



Olá, pessoal!

Conforme eu havia prometido, vim mostrar tudo o que li neste mês de janeiro. No total, li seis livros inteiros e comecei um outro. Vamos às informações?

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Comecei o mês lendo As Cavernas de Aço, de Isaac Asimov. Você pode conferir a resenha que fiz sobre o livro AQUI.

Comecei com o pé direito! A leitura desta obra me fez pensar bastante sobre superpopulação, escassez de recursos e sobre a questão tão atual que é homem versus máquina.

Asimov escreve de maneira bem objetiva, mas mesmo assim consegue provocar reflexões muito interessantes. Elijah Baley é um protagonista muito cativante - é fácil se envolver com sua história.

Nota: ✯✯✯✯

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Minha segunda leitura foi A Mão Misteriosa, de Agatha Christie. Você pode conferir a resenha que fiz sobre o livro AQUI.

Sinceramente, toda vez que não sei o que ler, recorro à Rainha do Crime. Este livro não é sua obra-prima, mas não deixa de ser uma excelente história.

Todo o enigma envolvendo as cartas misteriosas é realmente envolvente. Os protagonistas são cativantes. Pena que Miss Marple aparece só no finalzinho. =/

Nota: ✯✯✯✯

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Minha terceira leitura foi Persépolis, de Marjane Satrapi. Você pode conferir a resenha que fiz sobre o livro AQUI.

Se eu soubesse que este seria um livro maravilhoso, com certeza teria lido antes.

Satrapi nos toca com sua consciência política, social e cultural. O Irã nos comove e nos emociona de uma maneira única.

Recomendo para todo mundo!

Nota: ✯✯✯✯

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Minha quarta leitura foi O Rei de Amarelo, de Robert W. Chambers. Você pode conferir a resenha que fiz sobre o livro AQUI.

E foi bem aí que minha frustração janeirística começou. Não gosto de filmes de terror, mas livros até encaro. Assim que li sinopse e resenhas desta obra, fiquei muito empolgada. Mas a decepção foi grande.

A primeira parte do livro tem sua dose de mistério, embora não tenha sido o que eu esperava, mas a segunda parte foi extremamente chata e arrastada. Falava sempre sobre as mesmas coisas desinteressantes. =/

Nota: ✯✯✯

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Minha quinta leitura do mês foi Mulheres, de Charles Bukowski. Você pode conferir a resenha que fiz sobre o livro AQUI.

Outra decepção, mas o impacto foi menor do que o que sofri com o livro anterior. Embora a história nos apresente algumas reflexões interessantes, achei que o autor perdeu a mão.

O texto se tornou cansativo e repetitivo. Além disso, fiquei muito incomodada com a forma com que o protagonista tratava as mulheres (embora ele nunca tenha sido um exemplo disso, claro) e de como elas ainda achavam que ele era um cara legal. Não consegui entender.

Nota: ✯✯✯

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Minha sexta e última leitura completa foi Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Você pode conferir a resenha que fiz do livro AQUI.

Confesso que esperava um pouco mais da obra, mas ela não chegou a ser uma decepção.

O texto está recheado de críticas à sociedade e às posturas hipócritas de seus membros. Traz um relato comum de pessoas comuns, extremamente preocupadas com seus status sociais, contado sob a perspectiva de um defunto-autor pra lá de sarcástico e contraditório.

Nota: ✯✯✯✯

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Ainda em janeiro comecei a leitura de Zumbis x Unicórnios, mas li somente um conto. Estou dando continuidade ao livro agora em fevereiro e espero terminá-lo em breve.

Como puderam perceber, foi um mês razoavelmente instável. Apesar de ter lido uma boa quantidade de livros, nem todos são 100% recomendáveis.


Média de leituras do mês: ✯✯✯✯


Espero que fevereiro seja um pouco mais produtivo, com muitas leituras cinco estrelas! ;)

E vocês, o que leram em janeiro?


Abraços e até a próxima!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Resenha | Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Sinopse:

Em meados da década de 1870, Machado de Assis já desfrutava do prestígio de ser um dos autores mais importantes do país, ao lado de nomes como José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo. Todavia, entre 1880 e 1881, a carreira de Machado tomou um rumo inesperado: com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, aquele que seria nosso maior prosador elevou a literatura brasileira a um novo patamar, e seus ecos persistem até os dias de hoje.

Na obra, o finado Brás Cubas decide contar sua história por uma ótica bastante inusitada: em vez de começar pelo seu nascimento, sua narrativa inicia-se pelo óbito. Enquanto rememora experiências que vivera, entre uma digressão e outra, o defunto-autor tece uma série de reflexões sobre a vida e sobre a sociedade da época, com serenidade e bom humor, e o leitor se surpreenderá ao constatar a atualidade de suas observações.

Memórias póstumas de Brás Cubas pôs em xeque o conceito de Realismo literário, de romance e a própria forma de se fazer literatura. Divisor de águas na literatura brasileira, é uma obra à qual não se pode ficar indiferente.


AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS

Existe alguma dedicatória de livro melhor e mais apropriada do que esta? hehehe...

Esta é uma obra cuja leitura pode se tornar extremamente chata e despropositada se você não se deixar levar pelos personagens nem um pouco carismáticos e pelo enredo, por vezes, desnecessariamente detalhista. Mas garanto que valerá a pena no final!

Memórias póstumas de Brás Cubas é um livro que desperta alguns preconceitos, seja por ter sido leitura obrigatória na escola para muita gente, por ser um livro clássico, por ter uma linguagem complicada, enfim, o fato é que muita gente desgosta do coitado sem nem ao menos dar-lhe uma chance.

No meu caso, minha leitura obrigatória foi Dom Casmurro, do mesmo autor. Mas conheci Memórias póstumas ainda na escola, por intermédio de seu filme homônimo, lançado em 2001 e estrelado por Reginaldo Faria. Sei que tinha a ver com alguma coisa que estávamos estudando, mas não consigo me lembrar sobre o quê. O fato é que me diverti muito com o filme e resolvi que, um dia, leria o livro. E esse dia finalmente chegou! \o/

Brás Cubas, nosso falecido protagonista e narrador (ou defunto-autor, se preferir), resolve nos contar um pouco sobre sua história. Que não é emocionante, muito menos interessante. Começa pelo seu óbito, passa pelo funeral, pelos motivos que o levaram ao falecimento e aí parte para sua infância, adolescência e fase adulta. Conforme avançamos na leitura, conhecemos mais sobre uma pessoa hipócrita, sarcástica e por vezes muito irritante e irresponsável.

Machado de Assis faz uma crítica persistente à sociedade, obcecada por status e vaidade. A carreira política era extremamente visada justamente por colocar a pessoa em evidência, no poder. Brás Cubas é um narrador bem desenganado e desbocado, afinal, ele já estava morto mesmo! Aponta não somente suas condutas duvidosas, mas também de pessoas do seu círculo.


Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. (p.51)


Vi que era impossível separar duas coisas que no espírito dela estavam inteiramente ligadas: o nosso amor e a consideração pública. Virgília era capaz de iguais e grandes sacrifícios para conservar ambas as vantagens, e a fuga só lhe deixava uma. [...] (p.110)

É, digamos que a vida amorosa do nosso querido defunto-autor era meio tensa. Primeiro, gastou um dinheiro que não tinha com uma prostituta que, obviamente, só o "amou" durante o tempo em que ganhava benefícios por isso. Não satisfeito, após retornar da Europa, envolve-se num relacionamento com uma mulher casada que, claro, não abandonaria o marido (que possuía uma sólida carreira política) para viver com ele.

Resumindo: o livro traz uma história comum, com pessoas comuns, com qualidades e defeitos assim como todo mundo. Critica costumes da época e algumas posturas bastante duvidosas e contraditórias. A linguagem é mesmo um pouco arrastada, afinal, a história foi publicada em 1881, mas não há nada que um pouco de paciência e persistência não resolvam.

E o que eu ganhei lendo Memórias póstumas de Brás Cubas? Vontade de ler Quincas Borba! Machado de Assis está zoando minhas metas literárias de 2015. Quincas Borba, neste livro, aparece como colega de escola de Brás Cubas, mas depois de um tempo afastados, este último o encontra vivendo como um mendigo. Tempos depois, ambos se reencontram e Borba se transformou num filósofo, "missionário" de uma teoria/filosofia chamada "Humanitismo". Confesso que essa parte (final do livro, praticamente) ficou um pouco arrastada, mas ainda assim foi bem legal.

A verdade é que os personagens não tem carisma nenhum, propositadamente, mas mesmo assim você consegue se afeiçoar a eles. Muito provavelmente porque as descrições são bem reais; são pessoas que você encontraria facilmente por aí.

Ainda prefiro O Alienista, mas Memórias póstumas de Brás Cubas também é um excelente trabalho.

Recomendo a leitura!

Abraços e até a próxima!


Informações gerais
Título da obra: Memórias póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
Ano da edição lida: 1999
Editora: Martin Claret
Páginas: 195
Classificação: ✯✯✯

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Resenha | Mulheres, de Charles Bukowski

Sinopse:
 
"Eu tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher." Este é Henry Chinaski, Hank, escritor, alcoólatra, amante de música clássica, alter ego de Charles Bukowski e protagonista de Mulheres. Mas este não é um livro convencional - nem poderia ser, em se tratando de Bukowski - no qual um homem está à procura de seu verdadeiro amor.

Após um período de jejum sexual, sem desejar mulher alguma, Hank conhece Lydia - e April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha. Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompe corações, as enlouquece, as faz sofrer. E no fim elas ainda o consideram um bom sujeito. Publicado em 1978, Mulheres, o terceiro romance de Bukowski, é a essência de sua literatura: com o velho Chinaski, ele sintetiza a alma de todos aqueles que se sentem à margem. Escrevendo em prosa, Bukowski poetiza a dureza da vida e nos dá uma pista: "ficção é a vida melhorada".


Confesso que esta é uma das resenhas mais difíceis que já fiz por aqui. O que dizer de um livro que provoca emoções tão controversas? Talvez este post fique um pouco confuso, mas espero que eu consiga transmitir da melhor forma possível minhas impressões sobre a leitura.

Conheci Bukowski há pouquíssimo tempo, em 2013, e já havia lido três obras suas, todas em prosa: Misto-Quente, Pulp e Cartas na Rua. Apesar de ter lido apenas uma ínfima parte de todo o seu trabalho, sempre me surpreendi positivamente com o autor. Ele possui uma escrita muito peculiar: direta, reta, sem firulas, não quer impressionar pela beleza, ele quer ser real. Bukowski escrevia sobre relações humanas e temas marginais como ninguém. Isso sempre me impressionou, mas Mulheres me decepcionou um pouco.

Contando brevemente sobre o enredo, Henry Chinaski, ex-funcionário dos Correios, dedica-se à escrita de romances e poemas. Era através deste trabalho que ele conhecia a maioria das mulheres que passava pela sua cama. Claro que ele continuava bebendo demais e apostando em corridas de cavalo. Há um trecho muito interessante no livro que fala justamente sobre as bebedeiras:


Esse é o problema com a bebida, pensava, enquanto enchia o copo. Se acontece uma coisa ruim, você bebe pra esquecer; se acontece uma coisa boa, você bebe pra comemorar; se não acontece nada. você bebe pra que aconteça alguma coisa. (p.185)

O meu maior problema foi com a repetição exagerada do enredo. Ele relata da mesmíssima maneira todas as aventuras com suas milhares de mulheres. Até perdi as contas da quantidade de 'moçoilas' citadas. Era sempre assim: conhecia a moça através de cartas ou em alguma leitura que costumava fazer, combinava encontros, ia buscá-la no aeroporto (ou era buscado), a levava para sua casa (ou ia para a casa delas), bebia até não aguentar mais, tentava transar e não conseguia por estar muito bêbado, dormia, acordava vomitando no dia seguinte, aí finalmente conseguia transar e começava tudo de novo. Em determinado momento, tudo isso começou a me irritar de uma maneira tão intensa que quase defenestrei meu livro. O texto estava tão maçante que era até difícil absorver alguma reflexão que ele lançava no meio da história.

Mas não perdi as esperanças. No meio de tanta chatice, consegui encontrar uma parte do velho Bukowski que tanto adoro. Reflexões muito interessantes podem ser tiradas do livro, principalmente quando Chinaski se colocava em uma posição de fragilidade e de desajuste.

- Nada disso. Me perdi por ignorância e medo. Não sou uma pessoa íntegra; não passo de um ser urbano atrofiado. Sou apenas um merdinha ranzinza que não tem nada a oferecer a ninguém. (p.94)

[...] Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, ideias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante; dava muito trabalho. Eu queria mesmo era um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava. (p.113)

Durante todo o livro, ele trata as mulheres com desrespeito. Agia de uma forma extremamente descompromissada, chegando a realmente magoá-las. Isso também era alvo de autocrítica:

[...] Até quando eu ia ficar dizendo que era apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era deixando as coisas acontecerem sem me preocupar muito com elas. Eu não tinha nenhuma consideração por nada além do meu prazerzinho barato e egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior do que qualquer puta; uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vidas e almas como se fossem brinquedos. [...] (p.256)

No entanto, apesar de as reflexões e autocríticas serem bem interessantes e relevantes, eu sentia que era uma coisa vazia. Isso não serviria para alterar sua conduta, ele não ligava para isso. De certa maneira, isso me irritou mais do que a repetição do enredo. Eu tinha vontade de entrar no meio da história para socá-lo até ele acordar para a realidade.

Obs.: sinceramente, não sei como ele conseguia todas aquelas mulheres e como elas, mesmo depois de destratadas, continuavam a se importar com ele e achá-lo um cara legal. Foi difícil de engolir.

De toda forma, é um bom livro, sobretudo pelas reflexões que traz. Mas poderia ter sido bem melhor.

Para quem está começando a ler Bukowski agora, NÃO comece por este livro. Misto-Quente é uma melhor pedida. Infelizmente não tem resenha por aqui, mas comecem por ele. Sério.

Apesar dessa minha decepção, Bukowski continua sendo muito amor, mas agora com algumas ressalvas! <3

Abraços e até a próxima!



Informações gerais
Título da obra: Mulheres
Autor: Charles Bukowski
Ano da edição lida: 2013
Editora: L&PM
Páginas: 320
Classificação: ✯✯✯