terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Resenha | Restos Humanos, de Elizabeth Haynes

Sinopse:

Você conhece bem seus vizinhos?
Saberia dizer se eles estão vivos ou mortos?

Ao encontrar por acaso o corpo de uma vizinha em avançado estágio de decomposição, Annabel Hayer, que trabalha com análise de informações para a polícia, fica horrorizada ao pensar que ninguém, incluindo ela mesma, percebeu que havia algo errado.

De volta ao trabalho, ela se sente compelida a investigar o assunto, apesar da falta de interesse de seus colegas, e encontra dados que mostram o aumento assustador de casos como esse naquele ano em sua cidade natal. Conforme aprofunda sua investigação, Annabel parece cada vez mais convencida de estar diante de um crime terrível e é obrigada a enfrentar os próprios demônios e a própria fragilidade. Será que alguém perceberia se ela simplesmente desaparecesse?


Restos Humanos possui dois narradores principais: Annabel Hayer, uma analista criminal perto da meia-idade; e Colin Friedland, um sujeito pra lá de esquisito que trabalha na prefeitura de Briarstone, a cidade em que se passa a história.

Tudo começa quando Annabel, intrigada com o mau cheiro que parecia vir da casa ao lado, supostamente abandonada, resolve investigar por conta própria a situação. Ao praticamente invadir a residência, encontra o corpo de sua vizinha, Shelley, em estado avançado de decomposição.

Profundamente perturbada com o acontecido, sobretudo devido ao fato de que ninguém - inclusive ela mesma - percebeu que havia algo errado, começou a investigar o assunto. Espantou-se por constatar que haviam muitos casos semelhantes àquele acontecendo em Briarstone - 24 corpos foram encontrados em situação similar somente naquele ano, um número muito acima da média. Intrigada, tentou chamar a atenção das autoridades competentes, mas não obteve resultado satisfatório.

Os indícios apontavam para uma morte por inanição, ou seja, essas pessoas morriam de fome e sede. E parecia que faziam tudo por vontade própria. Era como se tivessem desistido de viver. Ao longo da história, temos acesso aos pensamentos dessas vítimas, a partir dos quais vamos entendendo os motivos que as levaram a isso.

Annabel ficou bastante abalada com os casos, pois ela mesma vivia um drama: morava sozinha com sua gata e não tinha um relacionamento tão bom assim com sua mãe. Se ela desaparecesse, será que alguém notaria? Seus colegas de trabalho não pareciam se importar muito com sua presença. Ela era uma vítima em potencial, sem sombra de dúvidas. E com isso a história vai se desenrolando...

Aos poucos vamos entendendo o papel que Colin Friedland, o outro narrador, tem na história. Precisei de apenas um capítulo narrado por ele para decidir que não gostava dele de jeito nenhum. Antipatia imediata. Mas não posso falar mais, senão teremos spoilers! ;)

Este é um livro profundamente reflexivo: nos faz pensar sobre abandono, rejeição, solidão e falta de autoestima. É muito fácil se autodestruir quando ninguém se importa com você ou quando você não permite que isso aconteça. Muitas vezes somos nós que não deixamos as pessoas entrarem em nossas vidas.

Vá para casa. E tranque a porta. Será mesmo que este é o caminho correto?

Só senti falta de um final mais consistente. Achei que era merecido e necessário, tendo em vista o desenrolar dos fatos. Mas isso não tira o mérito do livro, que é excelente, por sinal. Extremamente intrigante e perturbador. Estou ansiosa para ler mais coisas da autora.

[...] Era como se meu corpo já tivesse morrido e apenas esperasse minha mente alcançá-lo. E talvez a nuvem negra seja isso, afinal de contas. Talvez a nuvem negra seja a morte e eu simplesmente não a tenha reconhecido como tal. E tantos de nós ainda estamos perambulando pelo mundo, mas estamos simplesmente mortos por causa da nuvem dentro, fora de nós, ao nosso redor. (p.38)


[...] Ninguém consegue ver a dor. Não existe uma tabela referencial para avaliar a dor que outra pessoa sente. Tudo o que veem é a inatividade - que interpretam como preguiça. (p.75)

Citações interessantes, né? Acho que isso nos mostra que nem sempre sabemos o que se passa na mente das pessoas ao nosso redor. Às vezes precisamos nos colocar no lugar do outro e sempre temos que tomar cuidado com nossos julgamentos.

Livro recomendado!

Abraços e até a próxima!


Informações gerais 
Título da obra: Restos Humanos
Autor: Elizabeth Haynes
Ano da edição lida: 2014
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
Classificação: ✯✯✯

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