sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Resenha | Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

Sinopse:

Em meados da década de 1870, Machado de Assis já desfrutava do prestígio de ser um dos autores mais importantes do país, ao lado de nomes como José de Alencar e Joaquim Manuel de Macedo. Todavia, entre 1880 e 1881, a carreira de Machado tomou um rumo inesperado: com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, aquele que seria nosso maior prosador elevou a literatura brasileira a um novo patamar, e seus ecos persistem até os dias de hoje.

Na obra, o finado Brás Cubas decide contar sua história por uma ótica bastante inusitada: em vez de começar pelo seu nascimento, sua narrativa inicia-se pelo óbito. Enquanto rememora experiências que vivera, entre uma digressão e outra, o defunto-autor tece uma série de reflexões sobre a vida e sobre a sociedade da época, com serenidade e bom humor, e o leitor se surpreenderá ao constatar a atualidade de suas observações.

Memórias póstumas de Brás Cubas pôs em xeque o conceito de Realismo literário, de romance e a própria forma de se fazer literatura. Divisor de águas na literatura brasileira, é uma obra à qual não se pode ficar indiferente.


AO VERME
QUE
PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES
DO MEU CADÁVER
DEDICO
COMO SAUDOSA LEMBRANÇA
ESTAS
MEMÓRIAS PÓSTUMAS

Existe alguma dedicatória de livro melhor e mais apropriada do que esta? hehehe...

Esta é uma obra cuja leitura pode se tornar extremamente chata e despropositada se você não se deixar levar pelos personagens nem um pouco carismáticos e pelo enredo, por vezes, desnecessariamente detalhista. Mas garanto que valerá a pena no final!

Memórias póstumas de Brás Cubas é um livro que desperta alguns preconceitos, seja por ter sido leitura obrigatória na escola para muita gente, por ser um livro clássico, por ter uma linguagem complicada, enfim, o fato é que muita gente desgosta do coitado sem nem ao menos dar-lhe uma chance.

No meu caso, minha leitura obrigatória foi Dom Casmurro, do mesmo autor. Mas conheci Memórias póstumas ainda na escola, por intermédio de seu filme homônimo, lançado em 2001 e estrelado por Reginaldo Faria. Sei que tinha a ver com alguma coisa que estávamos estudando, mas não consigo me lembrar sobre o quê. O fato é que me diverti muito com o filme e resolvi que, um dia, leria o livro. E esse dia finalmente chegou! \o/

Brás Cubas, nosso falecido protagonista e narrador (ou defunto-autor, se preferir), resolve nos contar um pouco sobre sua história. Que não é emocionante, muito menos interessante. Começa pelo seu óbito, passa pelo funeral, pelos motivos que o levaram ao falecimento e aí parte para sua infância, adolescência e fase adulta. Conforme avançamos na leitura, conhecemos mais sobre uma pessoa hipócrita, sarcástica e por vezes muito irritante e irresponsável.

Machado de Assis faz uma crítica persistente à sociedade, obcecada por status e vaidade. A carreira política era extremamente visada justamente por colocar a pessoa em evidência, no poder. Brás Cubas é um narrador bem desenganado e desbocado, afinal, ele já estava morto mesmo! Aponta não somente suas condutas duvidosas, mas também de pessoas do seu círculo.


Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. (p.51)


Vi que era impossível separar duas coisas que no espírito dela estavam inteiramente ligadas: o nosso amor e a consideração pública. Virgília era capaz de iguais e grandes sacrifícios para conservar ambas as vantagens, e a fuga só lhe deixava uma. [...] (p.110)

É, digamos que a vida amorosa do nosso querido defunto-autor era meio tensa. Primeiro, gastou um dinheiro que não tinha com uma prostituta que, obviamente, só o "amou" durante o tempo em que ganhava benefícios por isso. Não satisfeito, após retornar da Europa, envolve-se num relacionamento com uma mulher casada que, claro, não abandonaria o marido (que possuía uma sólida carreira política) para viver com ele.

Resumindo: o livro traz uma história comum, com pessoas comuns, com qualidades e defeitos assim como todo mundo. Critica costumes da época e algumas posturas bastante duvidosas e contraditórias. A linguagem é mesmo um pouco arrastada, afinal, a história foi publicada em 1881, mas não há nada que um pouco de paciência e persistência não resolvam.

E o que eu ganhei lendo Memórias póstumas de Brás Cubas? Vontade de ler Quincas Borba! Machado de Assis está zoando minhas metas literárias de 2015. Quincas Borba, neste livro, aparece como colega de escola de Brás Cubas, mas depois de um tempo afastados, este último o encontra vivendo como um mendigo. Tempos depois, ambos se reencontram e Borba se transformou num filósofo, "missionário" de uma teoria/filosofia chamada "Humanitismo". Confesso que essa parte (final do livro, praticamente) ficou um pouco arrastada, mas ainda assim foi bem legal.

A verdade é que os personagens não tem carisma nenhum, propositadamente, mas mesmo assim você consegue se afeiçoar a eles. Muito provavelmente porque as descrições são bem reais; são pessoas que você encontraria facilmente por aí.

Ainda prefiro O Alienista, mas Memórias póstumas de Brás Cubas também é um excelente trabalho.

Recomendo a leitura!

Abraços e até a próxima!


Informações gerais
Título da obra: Memórias póstumas de Brás Cubas
Autor: Machado de Assis
Ano da edição lida: 1999
Editora: Martin Claret
Páginas: 195
Classificação: ✯✯✯

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