quarta-feira, 14 de junho de 2017

Resenha | A verdade sobre o caso Harry Quebert, de Joël Dicker


SINOPSE
Aos vinte e oito anos Marcus Goldman viu sua vida se transformar radicalmente. Seu primeiro livro tornou-se um best-seller, ele virou uma celebridade e assinou um contrato milionário para um novo romance. E então foi acometido pela doença dos escritores. A poucos meses do prazo para a entrega do novo original, pressionado pelo seu editor e pelo seu agente, Marcus não consegue escrever nem uma linha.
Na tentativa de superar seu bloqueio criativo, Marcus decide passar uns dias com seu mentor, Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados do país. É então que tudo muda. O corpo de uma jovem de quinze anos - desaparecida sem deixar rastros em 1975 - é encontrado enterrado no jardim de Harry, junto com o original do romance que o consagrou. Harry admite ter tido um caso com a garota e ter escrito o livro para ela, mas alega inocência no caso do assassinato.
Com o intuito de ajudar Harry, Marcus começa uma investigação por contra própria. Uma teia de segredos emerge, mas a verdade só virá à tona depois de uma longa e complexa jornada.

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— Um bom livro, Marcus, não se mede somente pelas últimas palavras, e sim pelo efeito coletivo de todas as palavras que a precederam. Cerca de meio segundo após terminar o seu livro e ler a última palavra, o leitor deve se sentir invadido por uma sensação avassaladora. Por um instante fugaz, ele não deve pensar senão em tudo que acabou de ler, admirar a capa e sorrir, com uma ponta de tristeza pela saudade que sentirá de todos os personagens. Um bom livro, Marcus, é um livro que lamentamos ter terminado. (Harry Quebert para Marcus Goldman, p.563)

Em 2008, Marcus Goldman se vê com a corda no pescoço (metaforicamente falando, claro). Depois de fazer um sucesso estrondoso com a publicação do seu primeiro livro, dois anos antes, assinou um contrato milionário com uma grande editora para a publicação de seu próximo romance. O grande problema é que ele foi acometido por um fenomenal bloqueio criativo e, às vésperas do prazo para a entrega do original, não escreveu uma linha sequer. Desesperado e pressionado pelo seu editor e pelo seu agente, resolve se retirar para Aurora, uma pequena cidade na qual vive seu ex-professor universitário, mentor e melhor amigo, Harry Quebert, que oferece suas instalações - Goose Cove, uma enorme casa na beira da praia - para que Goldman se inspire e volte a escrever. É lá que ele descobre que Quebert, no verão de 1975, 33 anos antes, se envolveu com uma adolescente de 15 anos, Nola Kellergan, e que a mesma, no dia 30 de agosto de 1975, desapareceu sem deixar vestígios.

A coisa realmente complica quando os restos mortais de Nola são encontrados em Goose Cove, propriedade de Harry Quebert. Obviamente ele é considerado culpado e é preso. Marcus Goldman, que a essa altura já tinha retornado à Nova York, vai correndo para Aurora na tentativa de provar que seu amigo é inocente. E então tem início a investigação criminal mais maluca que eu já li na minha vida.

Listei abaixo os principais pontos que me fizeram ficar um pouco decepcionada com esse livro:

1. A investigação criminal: essa parte da trama até que foi interessante, fiquei curiosa em vários momentos, mas o que me deixou irritada foram as várias reviravoltas cansativas e desnecessárias. Eram tantas que cheguei até a ficar confusa. Se o autor queria impressionar com suas "habilidades de escrita e criatividade", não funcionou. Eu valorizaria muito mais se ele tivesse conduzido uma investigação linear, sem ficar dando voltas e mais voltas, e inserido apenas UMA reviravolta no final (pra dar AQUELA emoção! kkkk).

2. Os personagens: nunca vi tanta gente desprezível junta. Sério. Se essa não foi a intenção do autor - e eu tenho quase certeza de que não foi -, ele falhou miseravelmente na construção de personagens. Marcus Goldman, Harry Quebert, Nola Kellergan, todos irritam. Mas ninguém irrita tanto quanto Tamara Quinn e a mãe do Marcus Goldman. Se esta última foi introduzida para dar um alívio cômico, DEU RUIM.

3. Os diálogos: este tópico está diretamente relacionado ao anterior. Um dos motivos para os personagens serem tão insuportáveis é justamente a falta de qualidade nos diálogos. As conversas são sofríveis. Várias vezes me peguei com um ódio intenso do livro, só porque estava lendo um diálogo extremamente imbecil. Quando a mãe do Marcus Goldman aparecia, eu tinha vontade de defenestrar o livro. A mesma coisa acontecia quando eu lia as conversas entre Tamara Quinn e seu esposo e também entre Harry e Nola: no caso desses últimos, até vertia mel das conversas.

4. O romance: em que planeta um romance entre Harry Quebert e Nola Kellergan convenceria alguém??? Para começo de conversa, ele tinha 34 anos na época, enquanto a garota tinha 15. QUINZEEE!!! Isso tá muito errado em vários sentidos. Mas mesmo desconsiderando a idade, o relacionamento deles era melosamente idiota. "Harry querido" pra cá, "Nola querida" pra lá, "Eu me mato se você me deixar", "Só te perdoo se você me disser que sou bonita" e mais um monte de mimimi que me deixou enjoada. E no final, tive que aguentar todo aquele chororô de Quebert, com 67 anos nas costas e nenhum juízo. Me poupe.

5. O livro (dentro do livro): em todo início de capítulo, há uma lição de Harry Quebert para seu pupilo sobre a arte de escrever (o que é ser um escritor de verdade, como escrever um bom livro etc.). A ideia é interessante, mas o problema é que isso dá certo ar de prepotência à obra e ao autor (neste caso, falo de Joël Dicker). Veja, por exemplo, a citação no início desta resenha: segundo Harry Quebert, um bom livro é aquele que o leitor, ao terminá-lo, contempla a capa, sorri e sente tristeza pela saudade dos personagens. Partindo desse pressuposto e de acordo com minha experiência de leitura, posso afirmar que A verdade sobre o caso Harry Quebert NÃO é um bom livro. Tá vendo como a prepotência não dá certo??? kkkkkk

Resumindo: se você considerar apenas a parte criminal da história, o livro é bom, desde que você releve as reviravoltas malucas. Agora, se levar em consideração os diálogos e a construção dos personagens, é melhor procurar outro passatempo.

Não posso nem culpar o marketing, afinal, faz tempo que esse livro foi lançado e mesmo assim ele nunca saiu da minha lista de desejos. Mas é aquela coisa: se você ficou curioso ou na dúvida, é melhor ler e tirar suas próprias conclusões. Tem muita gente falando bem dessa obra, então pode ser que você goste.

Obs.: O policial estadual Gahalowood é, de longe, meu personagem favorito. ♥

Até a próxima, pessoal!


Informações gerais
Título da obra: A verdade sobre o caso Harry Quebert
Autor(a): Joël Dicker
Ano da edição lida: 2014
Editora: Intrínseca
Páginas: 576
Classificação: ✯✯✯(tá mais pra 2,5)

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