terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Resenha | Mulheres, de Charles Bukowski

Sinopse:
 
"Eu tinha cinquenta anos e há quatro não ia pra cama com nenhuma mulher." Este é Henry Chinaski, Hank, escritor, alcoólatra, amante de música clássica, alter ego de Charles Bukowski e protagonista de Mulheres. Mas este não é um livro convencional - nem poderia ser, em se tratando de Bukowski - no qual um homem está à procura de seu verdadeiro amor.

Após um período de jejum sexual, sem desejar mulher alguma, Hank conhece Lydia - e April, Lilly, Dee Dee, Mindy, Hilda, Cassie, Sara, Valerie, não importa o nome que ela tenha. Hank entra na vida dessas mulheres, bagunça suas almas, rompe corações, as enlouquece, as faz sofrer. E no fim elas ainda o consideram um bom sujeito. Publicado em 1978, Mulheres, o terceiro romance de Bukowski, é a essência de sua literatura: com o velho Chinaski, ele sintetiza a alma de todos aqueles que se sentem à margem. Escrevendo em prosa, Bukowski poetiza a dureza da vida e nos dá uma pista: "ficção é a vida melhorada".


Confesso que esta é uma das resenhas mais difíceis que já fiz por aqui. O que dizer de um livro que provoca emoções tão controversas? Talvez este post fique um pouco confuso, mas espero que eu consiga transmitir da melhor forma possível minhas impressões sobre a leitura.

Conheci Bukowski há pouquíssimo tempo, em 2013, e já havia lido três obras suas, todas em prosa: Misto-Quente, Pulp e Cartas na Rua. Apesar de ter lido apenas uma ínfima parte de todo o seu trabalho, sempre me surpreendi positivamente com o autor. Ele possui uma escrita muito peculiar: direta, reta, sem firulas, não quer impressionar pela beleza, ele quer ser real. Bukowski escrevia sobre relações humanas e temas marginais como ninguém. Isso sempre me impressionou, mas Mulheres me decepcionou um pouco.

Contando brevemente sobre o enredo, Henry Chinaski, ex-funcionário dos Correios, dedica-se à escrita de romances e poemas. Era através deste trabalho que ele conhecia a maioria das mulheres que passava pela sua cama. Claro que ele continuava bebendo demais e apostando em corridas de cavalo. Há um trecho muito interessante no livro que fala justamente sobre as bebedeiras:


Esse é o problema com a bebida, pensava, enquanto enchia o copo. Se acontece uma coisa ruim, você bebe pra esquecer; se acontece uma coisa boa, você bebe pra comemorar; se não acontece nada. você bebe pra que aconteça alguma coisa. (p.185)

O meu maior problema foi com a repetição exagerada do enredo. Ele relata da mesmíssima maneira todas as aventuras com suas milhares de mulheres. Até perdi as contas da quantidade de 'moçoilas' citadas. Era sempre assim: conhecia a moça através de cartas ou em alguma leitura que costumava fazer, combinava encontros, ia buscá-la no aeroporto (ou era buscado), a levava para sua casa (ou ia para a casa delas), bebia até não aguentar mais, tentava transar e não conseguia por estar muito bêbado, dormia, acordava vomitando no dia seguinte, aí finalmente conseguia transar e começava tudo de novo. Em determinado momento, tudo isso começou a me irritar de uma maneira tão intensa que quase defenestrei meu livro. O texto estava tão maçante que era até difícil absorver alguma reflexão que ele lançava no meio da história.

Mas não perdi as esperanças. No meio de tanta chatice, consegui encontrar uma parte do velho Bukowski que tanto adoro. Reflexões muito interessantes podem ser tiradas do livro, principalmente quando Chinaski se colocava em uma posição de fragilidade e de desajuste.

- Nada disso. Me perdi por ignorância e medo. Não sou uma pessoa íntegra; não passo de um ser urbano atrofiado. Sou apenas um merdinha ranzinza que não tem nada a oferecer a ninguém. (p.94)

[...] Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, ideias, ideais, nem me preocupava com política. Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não ser. E aceitava isso. Eu estava longe de ser uma pessoa interessante; dava muito trabalho. Eu queria mesmo era um espaço sossegado e obscuro pra viver a minha solidão. Por outro lado, de porre, eu abria o berreiro, pirava, queria tudo e não conseguia nada. Um tipo de comportamento não se casava com o outro. Pouco me importava. (p.113)

Durante todo o livro, ele trata as mulheres com desrespeito. Agia de uma forma extremamente descompromissada, chegando a realmente magoá-las. Isso também era alvo de autocrítica:

[...] Até quando eu ia ficar dizendo que era apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era deixando as coisas acontecerem sem me preocupar muito com elas. Eu não tinha nenhuma consideração por nada além do meu prazerzinho barato e egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior do que qualquer puta; uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vidas e almas como se fossem brinquedos. [...] (p.256)

No entanto, apesar de as reflexões e autocríticas serem bem interessantes e relevantes, eu sentia que era uma coisa vazia. Isso não serviria para alterar sua conduta, ele não ligava para isso. De certa maneira, isso me irritou mais do que a repetição do enredo. Eu tinha vontade de entrar no meio da história para socá-lo até ele acordar para a realidade.

Obs.: sinceramente, não sei como ele conseguia todas aquelas mulheres e como elas, mesmo depois de destratadas, continuavam a se importar com ele e achá-lo um cara legal. Foi difícil de engolir.

De toda forma, é um bom livro, sobretudo pelas reflexões que traz. Mas poderia ter sido bem melhor.

Para quem está começando a ler Bukowski agora, NÃO comece por este livro. Misto-Quente é uma melhor pedida. Infelizmente não tem resenha por aqui, mas comecem por ele. Sério.

Apesar dessa minha decepção, Bukowski continua sendo muito amor, mas agora com algumas ressalvas! <3

Abraços e até a próxima!



Informações gerais
Título da obra: Mulheres
Autor: Charles Bukowski
Ano da edição lida: 2013
Editora: L&PM
Páginas: 320
Classificação: ✯✯✯

Um comentário:

  1. Concordo contigo em partes, mulheres foi meu terceiro livro de bukowski, e vim atrás de resenhas, porque eu realmente esperava mais em relação às reflexões maravilhosas que ele consegue nos trazer, pelo que já vi nos outros livros. Mas para mim, continua sendo uma obra que me deixou ainda mais apaixonada por ele, pela forma intensa e detalhada que ele se refere às coisas, as pessoas, as mulheres, de uma forma que eu nunca vi. A minha maior frustração foi com o final do livro, pensei não ter entendido, mas sinceramente eu não veria melhor final para um livro do Hank, uma pessoa como ele certamente teria um final daqueles.

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