segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Resenha | Laranja Mecânica, de Anthony Burgess

Sinopse:

Narrada pelo protagonista, o adolescente Alex, esta brilhante e perturbadora história cria uma sociedade futurista em que a violência atinge proporções gigantescas e provoca uma resposta igualmente agressiva de um governo totalitário.

A estranha linguagem utilizada por Alex – soberbamente engendrada pelo autor – empresta uma dimensão quase lírica ao texto. Ao lado de 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, Laranja Mecânica é um dos ícones literários da alienação pós-industrial que caracterizou o século XX. Adaptado com maestria para o cinema em 1972 por Stanley Kubrick, é uma obra marcante: depois da sua leitura, você jamais será o mesmo.


Como vão vocês, meus druguis?

Vamos govoretar umas slovos sobre este livro muito horrorshow intitulado Laranja Mecânica?

Prometo ser bem skorre! :)


Laranja Mecânica é aquele tipo de livro que cumpre o que promete. Distopia escrita em 1962, retrata uma sociedade futurística com um governo autoritário. Mais de 50 anos depois, percebemos que a obra ainda é atual.

Dos três livros mencionados na sinopse (1984, Admirável Mundo Novo e o próprio Laranja Mecânica), considerados a “trindade clássica distópica”, só li este, mas estou muito animada para ler os outros dois. Espero o mesmo tipo de reflexão que encontrei nesta obra.

Anthony Burgess foi equivocadamente diagnosticado com um tumor cerebral e, para manter o sustento de sua esposa após sua morte, passou a escrever várias obras. Sua produção intelectual intensificou-se nos anos 60, época em que foi concebido Laranja Mecânica.

Para iniciar a discussão sobre o conteúdo da obra em si, reproduzo aqui a frase de abertura da edição que tenho em mãos (informações no fim do texto):

“PASTOR: Desejara que não houvesse idade entre dezesseis e vinte e três anos, ou que a mocidade dormisse todo esse tempo, que só é ocupado em deixar com filhos as raparigas, aborrecer os velhos, roubar e provocar brigas.
- Shakespeare, Conto de Inverno, Ato III, Cena 3.”


No livro, Alex e seus amigos Tosko, Pete e Georgie saem pelas noites londrinas provocando o terror: roubam, espancam, estupram, enfim, causam um verdadeiro caos. Eles não são os únicos, obviamente. A sociedade, naqueles tempos, está passando por uma verdadeira onda de ‘ultraviolência’ provocada pelos jovens.

Eis que, numa noite, um fato acontece e direciona a história para outros caminhos. Com a promessa de “curar” a violência, o Governo propõe um método tanto agressivo quanto duvidoso.

Cito abaixo alguns trechos que mais me marcaram durante a leitura:

“(...) Será que um homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?” (p. 156)

“ – Eles sempre vão longe demais – ele disse, secando um prato meio distraído. – mas a intenção essencial é o verdadeiro pecado. Um homem que não pode escolher deixa de ser um homem.” (p. 233, grifo meu)


Acredito que a questão da liberdade de escolha é o ponto central da obra de Burgess. Quando somos condicionados a fazer determinada coisa, ou seja, quando somos impedidos de agir por nossa própria vontade, perdemos a nossa humanidade. Nos tornamos máquinas. Uma laranja mecânica. Quem tem o direito de interferir desta maneira em nossas vidas? O bem e o mal (conceitos complexos e relativos) está dentro de cada um de nós, mas são as nossas escolhas que nos definem. Ter o bem imposto a si garante que você realmente é uma pessoa boa?

Embora as atitudes de Alex e de seus amigos sejam absolutamente condenáveis, fiquei muito agoniada ao ver a forma como nosso Humilde Narrador foi tratado pela polícia e pelo Governo. Cheguei a ficar muito revoltada. =/

A escrita de Burgess é absolutamente sensacional. Ele trata de assuntos polêmicos com muita naturalidade e, além disso, fez com que Alex tivesse carisma, apesar de todas as atitudes cruéis que ele teve ao longo do livro. Me senti muito chateada comigo mesma por nutrir sentimentos bons em relação a ele (me julguem =/). Minha justificativa: provocar tais sentimentos contraditórios são méritos de um mestre na arte de escrever.

A linguagem utilizada no livro – nadsat (tipicamente adolescente) – pode prejudicar um pouco a leitura no início, uma vez que você precisa recorrer ao glossário a todo o momento. Aos poucos, entretanto, você vai se familiarizando com as palavras e, quando percebe, já está até pensando em nadsat (sou exagerada, confesso!).

Lembro-me de ter questionado qual o sentido de criar novas palavras para compor o livro, mas ao me aproximar do final da leitura, compreendi que essa particularidade linguística era justamente uma das coisas que mais me fariam sentir saudades da obra. Combinou com o cenário e com o protagonista. Foi marcante.

Eu até poderia fazer um breve comentário sobre o final do livro, mas tenho a impressão de que já soltei alguns spoilers por aí... Não vou correr o risco! Hehe...

Só digo que todo mundo deveria ler Laranja Mecânica.

Espero que 1984 e Admirável Mundo Novo sejam tão bons quanto...


Obs.: Ainda não vi o filme e não sei se verei tão cedo. Gostei tanto do livro que quero apreciá-lo por mais tempo antes de transformá-lo numa experiência visual...


Informações gerais
Título da obra: Laranja Mecânica
Autor: Anthony Burgess
Ano da edição lida: 2012 (edição comemorativa dos 50 anos da obra)
Editora: Aleph (diva!)
Páginas: 352
Classificação no Skoob: ✯✯✯✯✯

Abraços e até a próxima!

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