Sinopse:
Escrito após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1953, Fahrenheit 451 revolucionou a literatura com um texto que condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas principalmente o cenário dos anos 1950, revelando sua apreensão numa sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra.
A singularidade da obra de Bradbury, se comparada a outras distopias, como Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ou 1984, de George Orwell, é perceber uma forma muito mais sutil de totalitarismo, uma que não se liga somente aos regimes que tomaram conta da Europa em meados do século passado. Trata-se da "indústria cultural", a sociedade de consumo e seu corolário ético - a moral do senso comum", segundo as palavras do jornalista Manuel da Costa Pinto, que assina o prefácio da obra (desta edição que está na postagem). Graças a esta percepção, Fahrenheit 451 continua uma narrativa atual, alvo de estudos e reflexões constantes.
O livro descreve um governo totalitário, num futuro incerto, mas próximo, que proíbe qualquer livro ou tipo de leitura, prevendo que o povo possa ficar instruído e se rebelar contra o status quo. Tudo é controlado e as pessoas só têm conhecimento dos fatos por aparelhos de TVs instalados em suas casas ou em praças ao ar livre. A leitura deixou de ser meio para aquisição de conhecimento crítico e tornou-se tão instrumental quando a vida dos cidadãos, suficiente apenas para que saibam ler manuais e operar aparelhos.
Fahrenheit 451 tornou-se um clássico não só na literatura, mas também no cinema. Em 1966, o diretor François Truffaut adaptou o livro e lançou o filme de mesmo nome estrelado por Oskar Werner e Julie Christie.
Embora tenha sido escrito há mais de 50 anos, Fahrenheit 451 é um daqueles livros atemporais, pois os problemas expostos na obra perduram até hoje em nossa sociedade. E se querem mesmo saber, tais problemas prometem nos atormentar por muito mais tempo. Na história, os bombeiros são responsáveis por atear fogo nas coisas, sobretudo nos livros. As casas são à prova de fogo e possuem salões com TVs enormes, através das quais é possível interagir com o que chamam de "famílias".
Nesta sociedade, os livros são proibidos porque representam conhecimento. No entanto, não foi uma coisa necessariamente imposta: os próprios indivíduos pararam de ler, a fim de dedicar mais tempo ao lazer e a "ser feliz". Embora a felicidade fosse o objetivo, todos pareciam bem infelizes, robotizados. Tomavam pílulas para dormir e o suicídio era recorrente.
Guy Montag, nosso protagonista, vivia da mesma forma que os demais. Era bombeiro e sentia prazer em queimar os livros. Sua esposa, Mildred, era uma típica alienada: vivia para os telões e era uma adepta convicta das pílulas. Tudo parecia certo, mas na realidade só havia um vazio. Quando Montag conhece Clarisse McClellan, uma adolescente muito observadora, curiosa e questionadora, sua perspectiva sobre sociedade muda. Ele começa a pensar sobre as coisas, chega até mesmo a roubar livros. E chega à triste conclusão de que é infeliz. Quando a garota some misteriosamente, ele se rebela contra a política existente.
O que ocorre a partir daí é uma luta para preservar o pensamento e a memória, como a própria orelha do livro nos conta.
Fahrenheit 451 é um livro bem perturbador, pois a alienação das pessoas incomoda demais. Fazem dívidas para acrescentar mais um telão nas paredes da sala, pois dessa forma podem se sentir mais próximas das "famílias"; utilizam radioconchas nos ouvidos e ficam cada vez mais distantes do que ocorre fora de suas casas; tomam pílulas para dormir e por aí vai. Tudo é superficial, vazio, distante, as pessoas não se importam umas com as outras, não se (re)conhecem. É realmente desolador.
O livro provoca muitas reflexões interessantes, mas tive a impressão de que a narrativa ficou um pouco confusa. Em determinados momentos, as palavras fluíam tão depressa que eu não sabia se aquilo estava realmente acontecendo, se era metáfora ou se era o pensamento de Montag. Talvez eu não estivesse prestando a devida atenção. Pretendo reler a obra futuramente.
De toda forma, é uma excelente leitura! Recomendo!
[...] Todo homem capaz de desmontar um telão de tevê e montá-lo novamente, e a maioria consegue, hoje em dia está mais feliz do que qualquer homem que tenta usar a régua de cálculo, medir e comparar o universo, que simplesmente não será medido ou comparado sem que o homem se sinta bestial e solitário. Eu sei porque já tentei. Para o inferno com isso! Portanto, que venham seus clubes e festas, seus acrobatas e mágicos, seus heróis, carros a jato, motogiroplanos, seu sexo e heroína, tudo o que tenha a ver com reflexo condicionado. Se a peça for ruim, se o filme não disser nada, estimulem-me com o teremim, com muito barulho. Pensarei que estou reagindo à peça, quando se trata apenas de uma reação tátil à vibração. Mas não me importo. Tudo o que peço é um passatempo sólido. (p.84-85)
Deprimente.
Abraços e até a próxima!
Informações gerais
Título da obra: Fahrenheit 451
Autor: Ray Bradbury
Ano da edição lida: 2012
Editora: Globo - Biblioteca Azul
Páginas: 215
Autor: Ray Bradbury
Ano da edição lida: 2012
Editora: Globo - Biblioteca Azul
Páginas: 215
Classificação no Skoob: ✯✯✯✯✯